Pelas ruas da vila de Baróvia

Parecia um milagre que estivessem escapado daquela casa vivos e ainda mais inacreditável vê-la queimando junto com seus fantasmas e demônios. Spencer ainda parecia atônito quando Alymm sugeriu que ocupassem uma das casas que pareciam abandonadas para descansar e curarem seus ferimentos, parecia ser alta madrugada e a sensação de que algo poderia pular das névoas a qualquer momento não faziam das ruas uma boa opção. O cansaço e as roupas sujas de sangue fizeram com que aos poucos todos concordassem com a sugestão da Vistani afinal era se arriscar invadindo uma casa aparentemente abandonada ou acampar em terreno aberto e o risco de lobos e tudo o mais que pudesse viver naquelas florestas. Itham e Dedrin sondaram as duas casas vizinhas ao ruínas do casarão e acabam concordando com a casa da direita mas Alymm não se importava, sentia suas pernas tremendo para sustentar o peso do seu corpo e sabia que logo não teria força nem para acender uma fogueira de acampamento. 

Um xingamento escapou de seus lábios ao ver que, pela porta recém aberta por Itham, saíam ratos e mais ratos para atacá-los de uma forma nada natural, foi então que ela sentiu sua respiração ficar um pouco mais fácil e suas pernas mais firmes e viu que o mesmo acontecia com Dedrin, que esticava as costas a pouco curvadas pelos ferimentos, a medida que todos puxavam as armas, ela sentia que alguém tinha feito alguma coisa e, ao olhar em volta viu o olhar de Spencer sobre ela, observando-a preocupado. Ela agradeceu silenciosamente com um leve cumprimento de cabeça por o que quer que ele houvesse feito e se pôs em combate com o resto do grupo, invocando o fogo, ato tão natural quanto respirar para ela, para afastar os ratos que saiam de forma agressiva da casa 

Os ratos vinham aos montes e em grupos que se moviam como se fossem uma única massa amorfa, embora fossem apenas ratos, o volume os tornava bastante ameaçadores, como aqueles que já tinham enfrentado dentro da casa dos Durst, porém desta vez, em ambiente aberto e sem o gás os sufocando, apesar de algumas mordidas, logo o cheiro de pêlo e carne queimada invadiu o ar e a ameaça que se mostrou mais nauseante que realmente perigosa para o grupo, ainda que feridos e exaustos. O grupo entrou no que restava da casa e, apesar de Uther parecer desapontado por não ter um ambiente que lhe desse privacidade,o grupo organizou turnos de vigília e ao irem se deitar novamente uma misteriosa melodia que parece emanar de uma caixa de música toca brevemente e cessa deixando todos um pouco confusos e curiosos por não conseguirem se lembrar da melodia. O cansaço e os ferimentos eram tão profundos que todos conseguiram dormir profundamente, apesar de terem experimentado um sono agitado e cheio de visões do que presenciaram na casa ao lado mas que serviu ao propósito de deixá-los prontos para o dia seguinte.

As ruas da Vila de Baróvia

Devia ser meio-dia quando todos despertaram com um grito abafado e seco vindo de Spencer, cuja noite parece ter sido um pouco pior do que a dos demais. Se levantaram, dividiram rações e saíram para as ruas, deixando para trás os escombros. A noção de horário naquele céu permanentemente nublado os escapava e Alymm questionou quais das várias opções que tinham seria a escolhida pelo grupo quando um lamento cortou o silêncio da cidade. Um choro angustiado parecia falar diretamente com Spencer, que não exitou em seguir pelas ruas atrás de sua origem. Após alguns becos escuros, era fácil notar que o choro vinha de uma casa de que ficava em frente ao poço em uma das praças da cidade, próxima ao único mercador ainda em funcionamento na cidade, mas que não parecia ter nada que interessasse ao grupo naquele momento. Itham e Alymm bateram a porta, agora de onde estavam podiam ter certeza que era uma mulher que chorava dentro da casa, chamaram várias vezes, mas não tiveram resposta. Itham decidiu então entrar e, se anunciando, seguiu o lamento até um quarto onde se encontrava uma mulher mais velha abraçada a uma boneca e com o rosto banhado em lágrimas. Após trocar algumas palavras Itham chamou Uther e Spencer para que o ajudassem com a situação e os três descobriram que a mulher lamentava, de forma confusa e desconexa, pelo sumiço de sua filha Gertruda de 15 anos. Entre soluços e pesares ela explicou que mantinha a filha protegida do mal lá fora, como a maioria das famílias de Baróvia, mas que um dia Gertruda resolveu fugir sem aviso e destino, deixando a boneca que havia herdado da mãe para trás, a moça, mal saída da infância, sumiu na noite e há uma semana não era vista. Mary, a mãe, às vezes balbuciava que Gertruda comentava ter se apaixonado por um nobre e que seu lugar era em um castelo e não alí.. 

Mary

Mary, sabia que ninguém procuraria a filha ou se importaria com ela naquele lugar, mas Spencer e Itham, embora cientes de que sumir de noite junto as névoas era o mesmo que ser dada como morta, prontamente ofereceram ajuda e por fim, sendo surpreendida com um abraço de Spencer que prometeu tentar achar a menina bonita de cabelos e olhos pretos e brilhantes, com a Mary a descrevera, e pediu a boneca para que, caso a encontrasse, pudesse convencê-la a voltar para casa.


"se não for Blinsky, não é divertido"

O trio desceu com os semblantes pesados e inteirou o resto do grupo que esperava perto do poço e, juntos, resolveram se encaminhar para a taverna que Alymm tinha visto ao longe, talvez conseguissem um pouco de vinho e informação lá.

A placa desgastada do lado de fora afirmava que o local se chamava Sangue na Vinha mas que alguém tinha mudado grosseiramente para Sangue da Vinha, um calafrio pareceu percorrer o grupo que abaixou a cabeça para passar pelas portas escancaradas e se deixar envolver pela atmosfera do local, que nada trazia de animadora. 

Taverna Sangue na Vinha

Uma mesa à esquerda abrigava três mulheres, claramente Vistani, e ao canto direito do balcão, estava um homem de feições austeras e cabelos louros, cuja a tristeza e apreensão parecia acrescentar alguns bons anos às costas já aparentemente experientes. Itham tentava sorrateiramente subir as escadas que ficam encostadas a parede, quando é impedido por uma das Vistani que se identifica, juntamente com suas duas amigas, como dona do local. Ele, então, as questiona sobre a veracidade da afirmação e argumenta que Vistanis não costumam ter posses e moram em acampamentos, quando é solenemente ignorado pelas três, decidido que não falharia, mostrou uma moeda de ouro ao homem circunspecto secando copos insistentemente atrás do balcão, mas só conseguiu arrancar dele o valor da taça e da jarra de vinho, ao que o homem parecia ignorar qualquer outra forma de interação com quem quer que fosse

Sihtric, obtendo permissão de uma das Vistana, começa a dedilhar no alaúde uma música triste e melancólica. Imediatamente nota que o homem ao bar, que começava a se apresentar a Itham, parece ficar ainda mais abatido, claramente afetado pela melodia. O bardo, então, avisa misticamente a Itham que, então, oferece uma bebida ao homem e confirma a identidade das mulheres sentadas ao fundo. Com um olhar um pouco mais esperançoso, o homem então oferece a ele e aos seus colegas vinho, quando prontamente Itham o convida para se juntar a Spencer, Uther e Dedrin. Se aproximam da mesa e o elfo, cita o nome de Gertruda e tenta oferecer uma moeda em troca de algumas respostas mas é declinada com educação pelo homem que pontua que o grupo, claramente, não pertence a Baróvia.

Spencer se apresenta e se identifica como vindo da região de Valaki e o estranho expressa um misto de surpresa e esperança ao ver o símbolo do Lorde da Manhã que Spencer leva ao peito, e questiona se ele ainda acredita. Ao receber uma veemente afirmativa do paladino, o homem se apresenta como Ismark Kolyanovich. Nesse momento o grupo se lembra da carta que foi achada nos restos do mensageiro morto na floresta assinada por Kolyan Indirovich e alegando que sua filha adotiva, Ireena, havia sido mordida pela criatura que ele chama de vampyr. Ismark pede mais vinho para todos e confirma que a carta tem mesmo a caligrafia de seu pai recém falecido, mas mencionou que ele desconhecia o fato de Ireena ser filha adotiva como escrito na carta, e que sua irmã Ireena tem sido alvo constante da obsessão do demônio Strahd. A breve menção a esse nome faz com que Ismark trema de repulsa e rancor, mas era claro o medo em sua voz. Também era nítido que Ismark não estava confortável com essa conversa naquele local.  

Alymm permanece afastada e viu quando a observação do elfo foi rechaçada junto com seu pedido por informações, aproveitando que algo prendeu a atenção do grupo por mais de dois minutos, e que provavelmente não criariam problema, resolveu se aproximar da mesa das três Vistani e se apresentar, onde prontamente é bem recebida pelas três, que se apresentam como Alenka, Mirabel, e Sorvia. Elas a convidaram para se sentar à mesa e conversaram sobre a previsão feita por Madame Eva. Mirabel, a que parecia mais a mais bonita e experiente, questionou como a cartomante havia conseguido ver o Destino de Alymm que, prontamente, respondeu que a visão havia sido muito mais a respeito do futuro de todo o grupo do que o dela individualmente. A resposta pareceu convencer o trio, embora Alymm soubesse a verdade por trás desse fato,  mas a única coisa que ela conseguiu delas é que nenhuma havia ouvido falar da família Durst e que, na interpretação delas, uma casa de corrupção seria um lugar que provavelmente abrigaria alguém que não era o que parecia ser ou um local que não é exatamente o que aparenta. Alenka reforça que profecias são obscuras, e que às vezes o contexto precisa ficar claro para se entender o detalhe.

Tendo sido convidada a se juntar ao resto do grupo por Uther, Alymm se despede e esconde a frustração com a falta de respostas, brincando que precisa ficar de olho nos companheiros já que todas as quatro sabiam o perigo de deixar homens sem supervisão. A observação arranca gargalhadas da mesa que passa a reagir com melhores olhos a música e ao charme do bardo.

Ao se aproximar da mesa, ela percebe que a conversa já está adiantada e, após trocarem apresentações, Ismark, reforçando a notável aparência do grupo, pede para que o ajudem a escoltar sua irmã até Valaki, alegando que lá ela estaria mais protegida da cobiça de Strahd, já que a cidade é bem fortificada e protegida. O grupo reluta um pouco, não entendendo bem o motivo pelo qual ela deveria sair de sua casa, onde aparentemente estaria segura, e alguns ainda temendo, provavelmente pelas lendas que ouviram em suas terras, que sua irmã já estivesse transformada e além da salvação, mas concordam em se reunir com Ismark  a porta da residência da família, onde Ireena se encontra barricada para tratarem da viagem e dos demais detalhes. Ismark, então, se levanta e se despede deixando o grupo para trás.

Todos se posicionam em volta da mesa e iniciam uma discussão acalorada que é interrompida pela chegada de Sihtric, vindo da direção dos quartos com um sorriso de lado e uma Mirabel parecendo satisfeita em seu encalço. Cada um colocou suas restrições sobre a mais nova missão na mesa mas, ao final, o grupo concordou em fazer ajudar na escolta de Ireena até Valaki, que segundo Ismark deveria ocorrer o mais rápido possível..

Ao sair da taverna, o grupo se dirige para a casa do alcaide da vila, ainda apreensivo, discutindo o que deveriam fazer e que informações precisam, quando um rangido baixo de rodas mal lubrificadas corta o silêncio das ruas e revela uma figura curvada embrulhada em trapos, empurrando um frágil carrinho de madeira através das névoas. Sihtric, curioso com a velha senhora, se aproxima dela e percebe que no carrinho haviam tortas. Ela aparenta medo e tenta de afastar sem sucesso, dada sua baixa mobilidade, porém Sihtric a aborda e compra uma de suas tortas, que exalam cheiro bastante apetitoso de especiarias e carne bem cozida e retorna ao grupo. 

A mercadora de tortinhas

Vários minutos depois, a velha surge ao longe com seu carrinho já depleto de mercadorias e se dirige a saída da cidade. Nesse momento Spencer sente-se muito mal com a emanação maligna e resolve canalizar sua fé, o que revela algo aparentemente ainda mais perturbador, pois repentinamente ele se põe a correr na direção da velha senhora segurando o cabo de sua espada, ainda embainhada. O resto do grupo parecia alheio a movimentação com exceção de Sihtric, que analisa a cena desconfiado e nota um volume se mexendo no carrinho, que parecia diferente da primeira impressão que teve ao se aproximar para comprar a tortinha e também corre na mesma direção. Ao chegarem no carro, aparentemente ao mesmo tempo, Sithric indaga a mulher sobre o que estaria se movendo naquele saco e, antes que houvesse qualquer resposta, um brilho forte rompe o ar enquanto Spencer desfere uma espadada carregada de energia sagrada na mulher, que imediatamente desaparece dali. O grupo, agora reunido em volta do carrinho vazio com apenas um saco grande que a velha acabou deixando para trás. O saco se movia e emitia um som abafado, como se algo estivesse se debatendo lá dentro, ao que Sithric imediatamente o abre e vê um pequeno menino amarrado e amordaçado, com lágrimas banhando o rosto assustado.

O bardo tenta acalmar a criança enquanto o grupo o pressiona por informação e acabam descobrindo que ele foi entregue a velha como pagamento pelas compras das mercadorias e que só foi entregue pela mãe quando a vida dos pais foi ameaçada pela anciã. O relato inseguro e assustado do menino foi o suficiente para despertar uma fúria em Uther que ainda não havia sido testemunhada pelos companheiros. Eles caminharam amparando o garoto, ainda trôpego, até a casa dele, cuja porta foi aberta por uma mãe receosa. Dentro da casa eles puderam observar o pai do menino sentado no que parecia um estado alterado de consciência enquanto a mãe abraçava o filho ainda assustado e confirmava que só o entregou porque não havia outra opção. Uther e Dedrin pareciam prontos para invadir a casa e cobrar alguns dentes do pai que parecia alheio a tudo em sua volta. 

— A torta nos faz esquecer a dor, a fome, o medo e o desespero mas nunca deixamos de pagá-la! Ela não tinha o direito de levá-lo mas tivemos medo de confrontá-la. — disse a mulher já tentando fechar a porta percebendo que os salvadores do seu filho poderiam ser os seus executores tamanho ódio que ela via refletido no olhar dos dois homens mais velhos que a impedia de bater a porta.

Alymm, então, segura Uther pelo braço e pontua que castigar os pais do menino não levaria a nada e que uma solução mais efetiva não só para ele mas para todas as crianças da vila seria abordar esse problema, e todos os outros questionamentos que tivessem, com Ismark. Ela afirma que não acredita que seja um caso isolado e lembra o grupo do menino que fugiu de casa, foi salvo por Spencer e agora está feliz e se recuperando no acampamento Vistani. A sensatez nas palavras da feiticeira pareceu dissipar a névoa de revolta que cobria os olhos dos três humanos do grupo e eles se afastaram, deixando-a fechar a porta, reconhecendo que estavam aquelas pessoas pareciam estar simplesmente sobrevivendo, da única forma que sabiam, nesse desespero de cidade. Se dirigiram então ao casarão onde encontraram Ismark os esperando junto ao portão, que rangia insistentemente quase num padrão insistente e constante.