Além dos portões de Baróvia

Os cavalos pareciam seguir o caminho independentemente de como Alymm puxava as rédeas e esse foi o último pensamento que ela teve antes de serem tomados pela névoa e, com dificuldade para respirar, se sentir desmaiar no ombro do bardo que ocupava com ela a frente da carroça. Um tranco da estrutura de madeira despertou os heróis que, ainda levemente atordoados, cercaram Alymm de perguntas sobre o acampamento, os lobos, a névoa e o envio de uma resposta à Duquesa Morwen mas a névoa voltou a se fechar envolta do grupo os obrigando a voltar à carroça e continuarem viagem que, aos olhos de elfos e humanos, parecia às cegas.

Aos poucos a visibilidade foi melhorando e um portão gigantesco e parecendo pesado, com soldados esculpidos em suas pilastras de sustentação, se abriu para os viajantes e os cavalos continuaram, como guiados por uma força intangível, até atravessarem os portões e se verem cercados por uma floresta que não reconheciam. Tão logo a carroça cruzou os portões, eles se fecharam da mesma forma que abriram, e assim permaneceram, imóveis e solenes.

Os portões de Baróvia

Poucos metros depois, os cavalos empacaram no meio da estrada e pararam de responder aos puxões nas rédeas, nesse momento todos se viram forçados a descer da carroça e tentar entender onde estavam e como sairiam dali.  A estrada de cascalho estreita e curva seguia por entre a Floresta Svalich, onde árvores altas cujas copas se confundiam com a névoa cinza e pesada, que bloqueava tudo exceto uma luz cinza macabra. Os troncos das árvores pareciam estranhamente próximos uns aos outros e do seu interior somente se ouvia um  silêncio sepulcral que, de tão pesado, exalava a sensação de um grito silencioso.

Passados alguns minutos, que mais pareciam horas, ouviram um grito de pavor vindo do meio das árvores. Alymm viu, impotente, os quatro homens correrem floresta adentro buscando um grito que, para ela, tinha a sensação certa de ser uma armadilha ou, na melhor das hipóteses, um delírio repentino causado pelo peso que emanava do local. Tentou, uma última vez, puxar as rédeas para amarrar os cavalos fora do caminho mas, vendo que seu esforço era em vão, decidiu largar tudo e correr na mesma direção que o resto do grupo, imaginando por quanto tempo teria que servir de babá desses quatro grandalhões que aparentavam ser bem mais velhos que ela.

O caminho pela Floresta Svalich

Itham faz sinal para que o grupo pare e avisa que avistou uma matilha de três lobos estranhamente grandes. Os animais possuiam pêlo grosso e cinza escuro e tinham o dobro do tamanho de qualquer lobo que já haviam encontrado, com olhos que pareciam queimar na penumbra da floresta fechada, os cinco, então, desembainharam suas armas e se prepararam para o inevitável combate. Os lobos eram rápidos e, com suas mordidas, conseguiram ferir gravemente Uther e Dedrin mas Sihtric conseguiu adormecer, com um encantamento, um deles e, a partir desse momento, a sorte voltou a sorrir para os guerreiros e os lobos foram caindo um a um. 

A vitória veio e, com ela, a urgência de achar quem havia gritado por socorro mas tudo que acharam foi silêncio e um cheiro de morte no ar que os guiou a um cadáver de um jovem camponês, já em estado de avançada decomposição, com roupas e pertences simples, mas  que trazia, entre seus parcos bens, uma carta escrita com pesar onde se lia em caligrafia sóbria e firme a seguinte mensagem:


A carta, e sua menção a vampiros, maldições e riquezas, só levantou ainda mais questões entre o grupo, mas Alymm insistiu que voltassem para a estrada e que permanecer na floresta poderia atrair perigos ainda mais mortais para as quais não estavam recuperados o suficiente para enfrentar. O que quer que tivesse gerado o grito que os atraiu, eles já não acreditavam mais ser uma pessoa em perigo.

Seguindo, com a ajuda de Dedrin, suas pegadas de volta até a estrada eles notaram com surpresa que a carroça e os cavalos, que antes pareciam tão reticentes em se mexer, haviam sumido, deixando somente o rastro de volta em direção aos portões fortemente cerrados. Não lhes sobrava outra opção que seguir em frente pela estrada mal iluminada pelo céu cinza e nublado, mesmo sabendo que em Daggerford deveria ser dia claro.

A sensação é que estavam a dias caminhando, mas o conhecimento de Alymm lhe dizia que só haviam passado algumas horas e essa impressão era reflexo do cansaço da batalha e de terem passado a noite viajando. A floresta finalmente abriu e o grupo se percebeu em terreno alto com vistas para um vale onde jazia uma cidade cercada por um rio a esquerda e floresta e montanhas a sua direita que Alymm prontamente reconheceu como sendo a Vila de Baróvia. A cidade parecia estar a mais algumas horas de viagem e todos estavam apreensivos com a recepção dessas pessoas que pareciam, aos olhos deles, isoladas do mundo e, se levassem a carta que acharam em consideração, não queriam que fosse diferente.