A primeira missão - Os visitantes indesejados
A caminhada até o acampamento cigano foi breve, afinal, todos do grupo pareciam aventureiros e acostumados a situações extremas dentro das suas andanças e o meio-elfo não podia dizer que achar seu destino tinha sido difícil já que a fogueira ardia tão forte quanto a música e ele avisou aos companheiros que deixassem a conversa com ele. Uther acenou com a cabeça e saiu de lado, provavelmente procurando alguma pista, ele imaginava, enquanto Dedrin grunhiu sua concordância e fixou seu olhar na floresta como se esperando que os lobos aparecessem de uma hora para outra. Um dos ciganos os abordou assim que se aproximaram, como se tivessem cruzado muros invisíveis que avisaram aquele povo da sua chegada. Eles se apresentaram e foram convidados para se juntar a festa ao redor da fogueira.
O Acampamento |
— Também posso tratar com os ciganos, meu amigo! Acho que somos mais diplomáticos que nossos dois amigos. — disse Itham enquanto estavam alguns passos atrás do cigano que os recepcionou, Sihtric estava pronto a concordar e, educadamente, dispensar a ajuda quando notou um movimento na fogueira. Uma cigana de pele dourada dançava e ele não pode deixar de notar a cimitarra amarrada a cintura e a adaga presa junto a coxa e que só se mostrava quando a saia rodava, e ela não parecia ver problema em deixar a saia rodar, como se soubesse estar hipnotizando que a olhava.
Um dos ciganos se colocou entre ele e a visão, com um sorriso como se soubesse exatamente todos os pensamentos que lhe esquentavam o sangue e os ofereceu bebida mas ele recusou e se aproximou da cigana a convidando para dançar com ele.
— Se você conseguir dançar sem se enrolar nos seus pés como a maioria dos aventureiros, não vejo problema. — ela respondeu sem pestanejar e ele pôde ver como o fogo reluzia no verde de seus cabelos e dos seus olhos.
— Acho que você não reclamará da minha dança. — Sihtric sorriu como quando um grande felino acha uma caça desavisada do perigo. — Você que reflete a luz do fogo em seus olhos enquanto me encanta com sua dança, como se chama?
— Me chamo Alymm, me pergunto se além de dançar bem você não tem medo de se queimar comigo. — durante a dança, ele descobriu que ela era tão hábil com as palavras quanto com os pés.
— Às vezes um fogo que arde não queima, apenas acalenta ou aquece a quem busca uma fuga da noite fria. — respondeu Sihtric com um sorriso nos lábios, uma mulher que o tentava com tanta intensidade quanto o desafiava era raro e sempre garantia de diversão.
— Você deve estar fugindo mesmo já que não se dignou nem a me dizer seu nome.
— Perdão, formosa cigana. Sou Sihtric, filho orgulhoso de Avantgarde. E vocês? O que traz a sua alegria a essas paradas? — mas antes que Alymm tivesse a chance de responder, uma voz que parecia carregar consigo uma sabedoria além dos anos refletidos no rosto interrompeu a música e convocou todos para se sentarem a fogueira.
Sihtric viu que seus companheiros humanos hesitaram frente ao convite e permaneceram de pé enquanto ele e Itham, cordialmente, aquiesceram ao pedido, Stanimir riu ao perceber a desconfiança dos recém-chegados.
— Não se preocupem, não desejamos ser inimigos de Lady Morwen. Tenho uma história para contar a todos vocês. Primeiro vocês ouvem, depois nós nos vamos daqui.— Stanimir enche a boca de vinho e cospe no fogo. As chamas mudam a coloração de laranja para verde. Enquanto elas dançam e se movem, uma forma escura aparece no centro da fogueira.
— Viemos de uma terra antiga cujo nome há muito foi esquecido, uma terra de reis. Nossos inimigos nos expulsaram de nossas casas, e agora vagamos por estradas perdidas. — A forma escura no fogo assume a forma de um homem sendo derrubado de seu cavalo, uma lança perfurando seu lado e Stanimir continua.
— Uma noite, um soldado ferido entrou cambaleando em nosso acampamento e desabou. Cuidamos de seu terrível ferimento e nutrimos sua sede com vinho. Ele sobreviveu. Quando perguntamos quem ele era, ele se recusou a dizer. Tudo o que queria era voltar para casa, mas estávamos no fundo das terras de seus inimigos. Nós o tomamos como um dos nossos e o seguimos de volta à sua terra natal. Seus inimigos o caçaram. Disseram que ele era um príncipe, mas não o entregamos, mesmo quando seus assassinos investiram sobre nós como lobos. — No fundo da fogueira, surge uma figura escura de pé com a espada em punho, lutando contra uma série de formas sombrias.
O conto de Stanimir |
— Este homem de sangue real lutou para nos proteger, como nós o protegemos. Nós o carregamos em segurança para sua casa e ele nos agradeceu. Ele disse: "Devo-lhes minha vida. Fiquem o tempo que desejarem, saiam quando quiserem e saibam que sempre estarão seguros aqui.” — A figura nas chamas dançantes vencem seu inimigo final e se dispersa em uma nuvem de fumaça e brasas. O rosto de Stanimir se toma de feições sombrias.
— Uma maldição se abateu sobre nosso nobre príncipe, porém, transformando-o em um tirano. Somente nós temos o poder de deixar seu domínio. Nós viajamos muito para encontrar heróis como vocês para acabar com a maldição de nosso temível senhor e por sua alma perturbada para descansar. Nossa líder, Madame Eva, tudo sabe. Vocês voltariam para a Baróvia conosco e falariam com ela?
O grupo pareceu reticente em aceitar, como se digerindo que essa era a terceira tarefa que recebiam num período de um dia e não haviam resolvido nada além de comer e beber até então. Frente aos questionamentos dos aventureiros, Stanimir garantiu que deixariam aquelas terras como a Duquesa solicitou.
Os quatro mal haviam entendido a nova missão, uma névoa espessa invadiu repentinamente o acampamento e colocou os quatro heróis em nível máximo de alerta mas a descarga de adrenalina não foi o suficiente para que Uther, Dedrin e Itham se mantivessem conscientes.
Um atordoado Sihtric viu seus três colegas caírem no chão em profundo torpor enquanto os Vistani, sob orientação de Stanimir, os colocavam na parte de trás de uma carroça e Alymm segurou as rédeas na tentativa de acalmar os cavalos. Stanimir garantiu que, se permanecessem no caminho, chegariam a Baróvia e, eventualmente, a Madame Eva.
A névoa cresceu e se tornou espessa, como se tivesse vida própria, uivos tomaram conta da noite, arrepiando os pêlos das nucas daqueles que ainda lutavam para não adormecer, o acampamento foi tomado por uma sensação de urgência, todas as tendas e móveis foram guardados e fogueiras apagadas.
— Alymm, guie-os até os portões, vamos tratar do problema dos lobos e talvez nos encontremos de novo do outro lado. — Stanimir, após ver que Alymm executou sua orientação imediatamente, acompanhada pelo único integrante da comitiva da duquesa ainda consciente, reuniu seu povo e elevou uma oração a qualquer Deus que estivesse escutando. Ele sabia que estava na hora da feiticeira seguir seu destino.